Marcio Americo contra a censura e hipocrisia

Danilo Gentili

Há algum tempo proibiram os comediantes de fazer piadas com políticos (logo com quem). Mesmo sendo um ato de censura, rescendendo  ditadura e  conseqüentemente  assassinatos, torturas… não foi capaz de provocar indignação na maioria das pessoas, ninguém sentiu vergonha alheia com esta violência, mas semana passada, uma simples piada teve o poder de mexer com todos os setores da sociedade: intelectuais, sociólogos, tele-dramaturgos… enfim toda uma fauna que calou-se diante da censura aos comediantes, veio agora a público repudiar a piada do humorista Danilo Gentili. Vamos a piada:

“Entendo os velhos de Higienópolis temerem o metrô. A última vez que chegaram perto de um vagão foram parar em Auschwitz!”

A piada em momento algum defende o holocausto ou concorda com o extermínio de judeus, homossexuais e testemunhas de Jeová (os judeus não viajavam sozinhos nos trens, então o personagem da piada não tem que necessariamente ser um judeu, mas fica mais fácil interpertar assim, afinal de contas, quem aí está disposto a defender viado e crentinho ordinário?). O que a piada coloca é que tamanha violência deve ter criado um trauma que estaria  causando a discordância em construir-se um metro em Higienópolis. Trata-se evidentemente de uma ironia, todos sabem que este não é o motivo, que por trás desta negação está o preconceito e a intolerância pra com as pessoas comuns que usam o metro. Mas os iluministas de plantão preferem ver apenas a palavra Auschwitz, a menção ao nome do mais famoso campo de concentração é suficiente para anular o conteúdo real da piada e transformá-la num libelo a favor de Hitler. Absurdo! Não tenho nenhum tipo de intolerância com judeus, homossexuais, negros, amarelos, azuis com bolinha branca… enfim, mas o que percebo é que  determinadas minorias estão se tornando cada dia mais melindrosas. Os judeus por exemplo tornaram-se uma espécie de vitimas eternas da humanidade. Não se pode criticá-los. Por que?

Acredito que não exista uma categoria neste planeta, um povo, um profissional que não seja digno de crítica, que não tenha cagadas históricas em seu currículo. O humor vê desta forma.

Parece que a simples menção dos termos nazismo, holocausto que não seja para defender um determinado tipo étnico, deve ser desprezado e criticado. O mundo não tem este mesmo tipo de determinação pra com a escravidão que matou mil vezes mais que Hitler e que até hoje segrega pessoas, aliás, será que as pessoas que se sentiram tão ofendidas, sentem-se indignadas pela existência do abominável elevador de serviço por onde devem trafegar as empregadas domésticas e outros seres indesejáveis fora do convívio profissional? A maioria aceita e até incentiva o tal elevador segregatório, e, pra dar uma desbastada na consciência, referem-se a sua EMPREGADA como MINHA SECRETÁRIA. Sem contar as patroas que no silêncio e privacidade de seus lares agridem verbalmente suas empregadas, gritam, esbravejam. Vamos nos arvorar defensores desta categoria, elas não podem se defender sozinhas, os judeus podem, e os que não podem, não terão problema algum em contratar um bom advogado.

Há sim um grande desequilíbrio. Se as nossas novelas mostrassem personagens judeus sempre, SEMPRE em uniformes listrados seria uma desonra, mas ao vermos diariamente atrizes negras interpretando empregadas, motoristas, ladrão, estuprador… tá tudo certo, é aceitável, nunca vi ninguém aqui se manifestar com tanta veemência e sentir vergonha alheia por este fato. Este tipo de exclusão parece não incomodar tanto, é mais aceitável, afinal de contas o negrinho não tem grana pra fazer filmes, séries, livros, falando de suas mazelas históricas. Nunca vi um tele dramaturgo ir aos jornais ou mesmo postar no Facebook a sua vergonha alheia pela raridade de personagens negros na TV, nem mesmo o núcleo pobre é formado por negros! O único grupo étnico que parece intocável são os judeus. Basta ver quantos filmes sobre o holocausto existem, e quantos sobre a escravidão.

Alguém aí sente vergonha alheia com as propagandas de cerveja que depreciam o povo argentino? Se fosse um judeu, haveria esta tolerância?

A verdade é que parece que a raça humana sente-se de certa forma culpada pelo holocausto e fez um pacto silencioso de nunca mais falar sobre isto, a não ser para lamentar ou criticar, qualquer coisa fora deste parâmetro será rechaçada por todos. Uma pena que este pacto não abranja outras categorias étnicas. Nordestinos são vilipendiados todos os dias, correm piadas intermináveis sobre eles, NUNCA vi nenhuma pessoa de bem sentir vergonha alheia a este respeito.

O humor é um forte elemento do povo brasileiro, faz parte de sua identidade e não pode ser tomado como uma arma, pois  não é. Após a morte de Michael Jackson circularam no boca a boca dezenas e piadas, o mesmo com Ayrton Senna, Tancredo… mas de maneira alguma estas piadas traziam a mensagem de ódio ao seu protagonista.

Esta semana postei um texto falando sobre a intolerância e violência com que o governador do Paraná Roberto Requião trata jornalista, e não vi nenhuma manifestação de vergonha alheia, não vi nenhum grupo pedindo que Requião se retratasse, a única pessoa que foi lá, em nome dos jornalistas e da parcela da sociedade brasileira que ainda acredita em LIBERDADE foi o Danilo Gentili. Alguém o elogiou ou sentiu orgulho alheio? Vamos além, há pouco tempo um juíz (com “merda na cabeça”) proibiu o livro ROBERTO CARLOS, de Paulo Cesar Araujo. Quem se levantou pra defender o artigo 5 de nossa COnstituição. Quem sentiu vergonha alheia a ponto de manifestar-se publicamente? Qual teledramaturgo emcampou uma passeata, escreveu nos jornais ou mesmo no orkut? Isto só revela este desequilíubrio e esta super proteção a uma única categoria étnica.

Acho uma bobagem este policiamento em cima do humor, é sim uma forma velada de censura, e o pior, é uma censura seletiva que busca “ proteger”  apenas minorias que não são tão minorias assim.

O dramaturgo Jarbas Capusso publicou semana passada um post no Facebook falando sobre um nigeriano que foi pego com 60 duchas cheias de cocaína, há ali uma brincadeira com o fato dele não tomar banho, Jarbas postou ainda a foto de um jumento pra adjetivar o negrinho. Eu não considerei ofensivo, é humor, mas este pelotão que critica Danilo, se  fosse  coerente, criticaria este post e sentiria vergonha alheia. Mas como trata-se de um bosta dum nigeriano que só serve pra nos roubar o prêmio da São Silvestre, foda-se.  Se fosse um judeu a traficar cocaína em duchas, e a foto, ao invés de um jumento fosse um botijão de gás, aí sim teríamos um batalhão defenestrando o Capusso. Repito EU não vi nada demais no post dele.

Quanto ao Danilo, ele não teve outra opção a não ser fazer um mea culpa, teve que humilhar-se, engolir o texto, sofreu censura, mas tenho certeza que como Galileu ele deve estar regurgitando: “Eppur si muove!”.

A propósito, isto aqui é apenas uma discussão racional sobre um determinado tema, não interfere em nada o que sinto pelas pessoas que se colocaram a favor ou contra a piada, não costumo escolher amigos em razão de suas ideologias, mas pelo caráter, e os que postaram em minha página do Facebook são acima de tudo AMIGOS, grandes AMIGOS.   

  1. Muito BOM Marcião… O problema é que os que sentem a mesma indignação que nós por essa sensura, não tem o poder em mãos pra mudar as coisas…

    • Bartolomeu F. Chaves.
    • 2 de Maio, 2012

    Morre um Rei, morre um Bandido. Quem tem vontade de chorar?
    Infelizmente pensamos que somos inteligentes, na realidade somos seres pensantes. Todos nos somos animais racioanais e irracionais ao mesmo tempo. Temos idéais e ideais, somos criadores e cria. Nos nascemos, crescemos ou não, reproduzimos ou não, más com certeza morreremos! Do ventre de minha mãe “EU” vim e para o ventre de minha mãe “EU” voltarei. Prá terminar no momento: “SE NÓS FÔSSEMOS SERES INTELIGENTES,NÃO EXISTIRÍAMOS, PELO MENOS NESSE PLANETA”. No que acredito, não posso discordar.
    desculpe-me pelos ERROS GRAMATICAIS.
    Um abraço,
    Bartolomeu F. Chaves.

    • Daniel
    • 13 de Abril, 2013

    Achei muito legal o texto, e minha visão, com relação a esse assunto (judeus, piadas, indignação,conformismo), está mudada. É muita hipocrisia e pouquíssimo pensamento crítico. Parabéns ao autor.

    • Bartolomeu F. Chaves.
    • 6 de Junho, 2013

    De todos os apóstolos de Cristo, o mais culto de todos os doze, era Matheus.
    Se você prestar bem atenção, toda bíblia se resume a Matheus Cap.05 ao Cap.07.
    E para desmascarar os Pastores, que o Cristo era o dono do ouro e da prata segue:
    Mateus 10:1 E, chamando os seus doze discípulos, deu-lhes poder sobre os espíritos imundos, para os expulsarem, e para curarem toda a enfermidade e todo o mal.
    Mateus 10:2 Ora, os nomes dos doze apóstolos são estes: O primeiro, Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão;
    Mateus 10:3 Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Lebeu, apelidado Tadeu;
    Mateus 10:4 Simão o Zelote, e Judas Iscariotes, aquele que o traiu.
    Mateus 10:5 Jesus enviou estes doze, e lhes ordenou, dizendo: Não ireis pelo caminho dos gentios, nem entrareis em cidade de samaritanos;
    Mateus 10:6 Mas ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel;
    Mateus 10:7 E, indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus.
    Mateus 10:8 Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai.
    Mateus 10:9 Não possuais ouro, nem prata, nem cobre, em vossos cintos,
    Mateus 10:10 Nem alforjes para o caminho, nem duas túnicas, nem alparcas, nem bordão; porque digno é o operário do seu alimento.
    Quando você encarnar o Pastor Adelio, faça seus comentários.
    Um abraço,
    Bartolomeu F. Chaves.

  2. Muito interessante este texto. Eu não fiquei sabendo desta polêmica. Acabei encontrando-a por acaso neste blog, porque o que eu procurava era algo sobre a hipocrisia do ensino sem gramática. Tema totalmente diverso. Em compensação, ler esta crítica foi bastante gratificante. Você esclarece com exemplos muito bem fundados a censura que as piadas sobre judeus recebem, enquanto as demais continuam sendo aceitas sem muito ou nenhum reboliço. Mas o fato é que de maneira bem simplória, isto se deve ao fato de: os judeus serem em sua maioria ricos – sem querer ofender quem é rico -, enquanto todo o resto, não passa de resto, porque justamente são em sua maioria pobres: nordestinos, negros e a própria classe trabalhadora de domésticas.

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